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29 novembro, 2008

#6 In The Heat Of The Night

Cá estou eu de novo a abrir o tópico do filme da semana. Desta vez calhou-me o In The Heat of the Night, um filme passado nos anos 60 sobre um polícia afro-americano que procura desvendar um crime numa terra do sul dos Estados Unidos. Ora, o que acham que vem aí? "Um filme de detectives sobre um crime que parece muito simples mas que na realidade não o é e só a personagem principal se consegue aperceber disso e contra tudo e todos lá desvenda o mistério. Ah! Pois é! Se ele é negro numa terra sulista, então é um coitadinho bonzinho e discriminado que é constantemente humilhado e até agredido." Não! É principalmente um filme sobre uma personagem e não sobre um crime. E essa personagem está muito longe do habitual coitadinho e da pessoa perfeita. É principalmente este facto que na minha opinião dá um toque bem diferente ao filme. Juntamos uma pitada de uma grande realização e um cheirinho de uma excelente banda sonora, et voilá! Temos um filmão!

Bem, mas vou explicar exactamente o que dá o mote a este título. Tudo começa com a morte de um dos homens mais ricos da pequena cidade de Sparta. Na busca urgente de um culpado, Virgil Tibbs (Sidney Poitier), um negro que esperava pelo comboio para sair da cidade, é imediatamente considerado suspeito por questões puramente raciais. Mas quando o chefe de polícia local, Chief Bill Gillepsie, se apercebe que Tibbs é, não um criminoso mas, um detective de Filadélfia especialista em homicídios procura a sua ajuda. É então que as pressões para afastar Virgil do caso e a pressa para condenar as pessoas erradas começam a aparecer. Isto só faz com que a vontade de afirmação da força e competência de Virgil se torne ainda mais forte e encontrar o culpado torna-se uma tarefa pessoal.

Mas este filme, como já disse, não tem a sua grande força na história. Primeiro, a forte personagem de Mr. Tibbs, em vez de ser o herói justo e perfeito, é antes apresentada com todos os seus defeitos (até demonstra algum racismo). Depois temos um bom desempenho de Rod Steiger, no papel do Police Chief Bill Gillepsie, que lhe valeu aliás o Óscar de melhor actor principal. Temos ainda uma realização muito moderna que me surpreendeu bastante. Estava cheia de bons planos de câmara e com muitos efeitos de zoom in e zoom out que nos levam de muito perto de um objecto ou personagem para muito mais longe que aquilo que seria de esperar. Notei ainda que houve muito mais utilização de câmaras não-fixas nas cenas exteriores do que aquilo que tenho visto nos nossos filmes. Por fim, tenho que destacar e elogiar a banda sonora criada por Quincy Jones e com participação de Ray Charles, muito ao meu gosto.

Resumindo, adorei o filme. Caiu-me que nem ginjas! É um filme leve mas com todos aqueles ingredientes especiais que fazem os bons filmes. Depois aquele jazz só serviu para que gostasse ainda mais do filme. Vejam, revejam e tornem a rever! Vale muito a pena!

Por fim, a quote que marcou este filme:
"They call me MISTER Tibbs!"

PS: Desculpem se me alonguei muito no texto, mas não conseguia dizer o que queria em menos palavras.
PS2: Olha a Dolores que coitada só tinha 16 anos!

22 novembro, 2008

#5 Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb

Mais um dia marcante para a história do nosso blog! Esta quinta-feira passámos pela primeira vez um filme do nosso ciclo para o público. Um obrigado a todos aqueles que estiveram presentes, e esperemos que da próxima vez apareçam ainda mais.

Ora bem, o filme desta semana foi o "Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb", de Stanley Kubrick (um dos mais longos títulos da historia do cinema). E até ao momento, da nossa fantástica lista, este foi o filme que mais gostei.

A história começa com um general da Força Aérea do Estados Unidos mentalmente instável que, durante a guerra fria, convence-se de que os russos estão envolvidos numa conspiração para poluir a água dos cidadãos americanos e ordena um ataque nuclear à União Soviética.
A partir daqui o enredo desenvolve-se em torno da tentativa do presidente dos Estados Unidos de recolher os bombardeiros, tentando prevenir (sem sucesso) o holocausto nuclear.

Pois bem, e o que fez o "Dr. Strangelove" tornar-se na referência que é actualmente para o cinema? Perguntam vocês.
Ora, a genialidade deste filme reside na forma em como Kubrick o apresenta e na época em que o apresenta.
O filme é uma sátira carregada de humor negro que, surgido numa época de grande tensão (e até paranóia) devido à guerra fria e corrida às armas nucleares, consegue descrever um resultado catastrófico (e não completamente improvável) da guerra e ao mesmo tempo fazer o espectador rir.
Ainda a forma como consegue capturar o absurdo da guerra e de algumas decisões e entidades políticas tornam este filme único.

Falando agora de aspectos mais técnicos, um pormenor interessante que gostaria de apontar é que o filme se desenrola em apenas 3 cenários distintos (tendo cada um deles estilos de câmara distintos):
1- A cabine do bombardeiro (B-52), em que as cenas são principalmente à base de close-ups, para reforçar a ideia de um espaço fechado;
2- A Sala de Guerra, em que a maioria das cenas é filmada à distância com uma câmara fixa;
3- O escritório do General da Força Aérea, que usa um estilo mais livre, com mais movimento.
Ainda, não poderia deixar de referir a brilhante prestação de Peter Sellers, que nos consegue providenciar não uma, não duas, mas três personagens hilariantes no decorrer do filme. Sendo estas: Dr. Strangelove, o president Merkin Muffley e Lionel Mandrake (capitão da RAF).



Para terminar, após a rodagem do filme algumas pessoas questionaram o que havia de errado com a personagem do Dr.Strangelove (além do óbvio), para quem ainda se sentir curioso aqui vai: Alien hand syndrome.

"Mein Führer! I can walk!"

18 novembro, 2008

Grande Matiné BTTF: Dr. Strangelove

Esta Quinta-feira, dia 20 de Novembro, pelas 18h vamos exibir o filme desta semana: Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb. A exibição vai ser feita no IST (Alameda), no anfiteatro PA1 (pavilhão pós-graduação).


Depois do filme vamos fazer um mini-debate sobre o filme para os interessados.

É tudo! A gerência agradece a vossa presença.
A equipa do BTTF.

15 novembro, 2008

#4: North by Northwest

E chegou agora o momento do meu primeiro testemunho na progressão e análise do CFQMUEEDC (Ciclo de Filmes Que Marcaram Uma Época/Era Do Cinema). Na calha está o filme North by Northwest, uma pérola cinematográfica do grande mestre do suspense Alfred Hitchcock!

North by Northwest é um filme de suspense que segue a história de um executivo de publicidade, Roger Thornhill (Cary Grant) que é confundido com um agente secreto e perseguido, exaustivamente, através dos Estados Unidos por uma organização misteriosa, que acredita que ele esteja a interferir com os seus planos de traficar ‘segredos de estado’ na forma de um microfilme.

Ora, fantástico enredo desvendado, pergunto: que mais pode este filme ter? A resposta: Muito, muito mais!

O enredo do filme começa por criar, logo no início, uma grande intriga que nos deixa enigmados e expectantes do que vai acontecer a seguir. Esta intriga, no entanto, serve apenas de aliciante inicial pois é desfeita prontamente mas deixa-nos ainda com a cómica situação da procura de um agente que não existe, por um homem que, claramente, não sabe o que se passa e que é perseguido por sujeitos desconhecidos que traficam um microfilme, cujo conteúdo é importantemente inútil para o decorrer do filme! (um MacGuffin clássico) =D

A acompanhar vêm cenas de acção que ficaram marcadas para sempre na história do Cinema. Falo obviamente da cena de perseguição do avião pulverizador e da cena de perseguição no Monte Rushmore que estão originalmente fantásticas!

Claro que com a coragem de enfrentar um argumento arriscado, como era este, tendo em conta a tecnologia da altura, aparecem alguns erros de actuação e realização que, no entanto, surgem até com um sentimento humorístico.

Passando para aspectos mais técnicos posso começar pelo início do filme, em que os créditos iniciais são apresentados com uma tecnologia usada pela primeira vez e que passou a ser muito usada desde então: a tecnologia de Kinetic Typography, que basicamente apresenta os créditos com movimento e contextualização com o cenário e cena inicial.
Pude ainda observar outras evoluções face aos filmes que já foram apresentados tais como a filmagem do exterior dos veículos em movimento (mas ainda com o plano clássico, mas ainda sublime, no interior dos bólides) e a primeira transição singular de plano que vi neste ciclo.

Por tudo isto posso dizer que de todos os filmes de Hitchcock que já vi (e já vi uns tantos) este é o melhor!

Para concluir queria só dizer… molho…

08 novembro, 2008

#3: Nights of Cabiria

Esta semana calhou a mim abrir o tópico do filme da semana mas como só acabei de o ver agora mesmo já vai um pouco fora de hora e por isso peço desculpa aos muitos que já devem estar sem unhas de tanto roer à espera para poder mandar uns "bitaites" sobre o 3º filme deste ciclo: Nights of Cabiria.

O filme conta a história de Cabiria Ceccarelli, uma prostituta de meia idade com uma tendência para se afogar em busca do amor e felicidade. Embora não passasse necessidades, Cabiria vagueava pelas noites sempre à procura de algo mais para a sua vida, sendo que apenas se deparava com as situações mais caricatas, como saidas "de mansinho" pela madrugada. Em busca de um caminho, esta procura o conforto de que necessita sempre nos braços dos homens errados que apenas se tentam aproveitar de si.

Com uma excelente representação de Giulietta Masina (que por acaso, vá, era esposa do realizador, só por acaso) este filme mostra uma face obscura das noites Romanas a meados do século XX, retratando as dificuldades por que passavam as "mulheres da vida" que, no caso de Cabiria, no fundo do seu ser, não era mais do que uma ingénua rapariga de 18 anos que ia com a mãe à missa.

Devo ser sincero, não sou grande apreciador de filmes franceses e espanhóis então italianos este deve ser o primeiro que vejo e a verdade é que até metade do filme não lhe estava a achar grande piada, até chegar às cenas que me colaram mais ao ecrã e mudaram completamente a minha opinião sobre a película: durante a ida da protagonista a um santuário de Maria, o momento em que estava rodeada de peregrinos e a sua cara espelhava desespero pois com tanta gente à procura de fé à sua volta esta nunca se sentira tão sozinha e desamparada; e a cena quando esta é hipnotizada e nesse estado revela uma ingénua criança que existe dentro de si cujo objectivo é encontrar o amor.

Embora a prostituição seja a mais velha profissão do mundo não acredito que em 1957 um filme que apresenta as profissionais a "atacar" na calada da noite tenha sido encarado de ânimo leve pois revela à sociedade uma realidade que muitas vezes esta tende a ocultar. Deste modo Frederico Fellini capta em Nights of Cabiria o lado mais sujo da sociedade concedendo-lhe a entrada (directa!) para a história do cinema.

Don't do Drugs.